Uma das maiores gestoras de recursos do mercado em escala global, a BlackRock, com cerca de US$ 8,5 trilhões (R$ 43,7 trilhões) em ativos sob gestão, lançou, em fevereiro do ano passado, oito produtos que dão ao investidor local acesso ao mercado de renda fixa no exterior.
Conhecidos pela sigla BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de ETFs (Exchange Traded Funds), esse tipo de investimento é uma espécie de fundo de estratégia passiva, que segue uma carteira de composição predefinida e é negociado em Bolsa como uma ação.
Dos 8 produtos lançados há cerca de um ano, 6 seguem o rendimento dos títulos públicos emitidos pelo governo americano, chamados de “treasuries”, com diferenças entre o prazo médio de duração dos títulos, e dois acompanham papéis de dívida corporativa.
Segundo Paula Salamonde, diretora do segmento institucional e ETFs iShares da BlackRock Brasil, a demanda pelos BDRs de ETFs de renda fixa global, que têm valores iniciais de investimento em torno de R$ 50, começou a ganhar tração no fim do ano passado, depois que o Fed já havia avançado no processo de aperto monetário, com a taxa de juros acima do patamar de 4% ao ano.
Com um patrimônio combinado de aproximadamente R$ 46 milhões em dezembro de 2022, os fundos de índice, como também são conhecidos os BDRs de ETFs, alcançaram em fevereiro um volume de R$ 87 milhões, praticamente dobrando de tamanho em dois meses. Já a média do volume diário negociado foi de R$ 8 milhões em fevereiro.
Embora ainda se trate de quantias relativamente modestas, principalmente para os padrões da BlackRock, a executiva diz que o rápido crescimento em um curto espaço de tempo indica o interesse e o potencial da classe de ativos no país.
“O fluxo está partindo tanto do investidor pessoa física quanto do institucional, por causa da oportunidade que eles estão enxergando. É um ativo de risco muito baixo, com retorno acima de 4,5% ao ano”, afirma Paula, acrescentando que, por ser negociado originalmente no mercado americano, os BDRs de ETFs também acompanham a variação do dólar ante o real.
“Desde as eleições do ano passado, notamos o investidor brasileiro buscando cada vez mais ativos dolarizados, diante das incertezas da economia e da política no Brasil”, afirma Cauê Mançanares, CEO da Investo, gestora que lançou em julho de 2022 dois ETFs cuja proposta também é a de acompanhar índices de renda fixa no exterior que replicam uma carteira teórica composta por milhares de títulos de dívida.
O USDB11 acompanha o ETF americano BND (Vanguard Total Bond Market ETF) e foca apenas o mercado de renda fixa dos EUA, com cerca de 70% da carteira investida em títulos do Tesouro americano e 30% em títulos de dívida. Já o BNDX11 tem sua performance atrelada ao BNDX (Vanguard Total International Bond ETF), que acessa o mercado global de renda fixa, com foco em ativos da Europa, do Pacífico e dos Estados Unidos.
Com volume médio mensal de R$ 17 mil e R$ 6.200 no mês de lançamento das estratégias, respectivamente, os ETFs vêm aumentando o giro de negociação —em março, o volume médio alcançou R$ 520 mil e R$ 150 mil em cada um dos fundos.
Os ETFs foram lançados com valores de R$ 100 e hoje são negociados na Bolsa em torno dos R$ 90. A desvalorização, explica Mançanares, se deve ao efeito da marcação a mercado, com o impacto negativo do processo de aumento dos juros pelo Fed para os preços dos títulos replicados nas carteiras dos ETFs.
Paula, da BlackRock, afirma que a gestora prevê a manutenção dos juros americanos no patamar atual, com uma possível redução das taxas em meados do segundo semestre. Ela diz que a crise no setor bancário global, com redução na demanda por crédito, contribui para que o Fed interrompa o ciclo de alta dos juros.
Com informações de UOL